Recon Issue_01: Onde está minha gente? Parte 1

Recon Issue_01: Onde está minha gente? Parte 1

de Notícias Recon

21 de dezembro de 2018

Por ThatSandy, da Equipe Recon

Originalmente publicado na Recon Issue_01


Achei muito difícil escrever este texto. Falar sobre raça dentro da comunidade gay e fetichista pode ser complicado. Explicar o impacto que a falta de representatividade tem nesses grupos pode ser ainda mais complicado. Mas aqui vamos nós...

Eu tenho uma piada que sempre faço que os únicos negros que eu vejo nas festas fetichistas no Reino Unido são eu, Antoin (nosso Produtor de Eventos) e TheBunny. Conforme as conversas sobre diversidade e representação vêm se tornando mais presentes em nossa sociedade, essa discussão cresceu em mim, apesar de esta piada ser um exagero sobre a falta de pessoas como eu na cena fetichista.

Uma coisa que eu percebo nitidamente em minhas viagens é a disparidade entre a Europa e Estados Unidos neste assunto. Existe uma conexão e reconhecimento instantâneos quando eu encontro outra pessoa de cor na cena. Sem dizer muito, nós entendemos os problemas que as minorias passam. Por exemplo, eu sou um ponto de referência na Folsom Europe, enquanto sou um irmão na Folsom Street East. Neste tipo de evento, ver um grupo de homens negros andando por aí não é incomum nos Estados Unidos.

O patrono fundador da ONYX NY/Northeast, que eu encontrei durante a CLAW, usuário Recon BOXERDADDY se destaca na cena como uma de minhas primeiras interações com outro negro. Lá estava aquele homem negro, lindo e sexy com um fetiche por lutas, cuja presença era poderosa. Sentamos para conversar e ele disse "eu entrei em uma sala onde eu era o único homem de cor, mas eu gosto disso. Eu sou único, eu sou diferente, eu sou algo especial. Olhe para mim, me admire, pois eu estou aqui e eu vou ficar aqui. Você pode aceitar isso ou não. Isso é decisão sua".

Para quem não sabe, a ONYX é uma organização formada e operada por homens de cor interessados por fetiches e taras. Formada por 9 subgrupos em regiões de todos os EUA, eles abordam assuntos específicos das pessoas de cor, além de educar na condução das taras de forma segura. BOXERDADDY procurou pela ONYX quando ele percebeu que era fetichista e procurava por conexões. Como membro, ele foi introduzido a outros fetiches, mas o fato de fazer parte de algo maior que ele já é algo especial.

"Liderar seu próprio caminho é muito mais gratificante do que seguir o de outra pessoa" é o mantra de BOXERDADDY e poderia ser a inspiração para os homens de cor da Europa criarem algo como a ONYX. Se eu não estou enganado, parece que não existe nenhuma organização do tipo por estas terras.

Eu sinto que fazer parte deste grupo poderia ter me ajudado em muitas situações e experiências em minha vida. Ser um homem gay negro já é um estigma muito grande em nossa própria comunidade, e quando se adiciona a camada fetichista em cima disso coloca-se um peso ainda maior nos ombros para ser carregado. Sem mencionar a percepção de homens gays negros por outras raças. Pode se tornar um ambiente muito complexo para se prosperar sexualmente. Ter a habilidade de se conectar com outras pessoas que têm a mesma história não tem preço. Para entender melhor a necessidade de grupos como o ONYX, eu fui falar com o presidente deles, Angel, também conhecido como Diablo ONYX.

Angel diz que ele sempre teve curiosidade e que se sentia diferente dos outros a sua volta. Ele soube da ONYX através de um amigo, e ele acredita que as pessoas geralmente procuram o grupo porque não sabem onde mais podem aprender mais sobre práticas fetichistas ou encontrar outros caras como eles. A expressão "cara hétero que curte homens no sigilo" é algo normalmente associado à cultura negra gay. Você vê isso em todos os aplicativos, nos perfis dos homens de cor que não mostram a cara. O medo de serem descobertos é real para esses homens, por isso que confiança é algo tão importante para os homens de cor no processo de guiá-los em suas jornadas.

"Quando eu ia a eventos como MAL e CLAW, eu não via muitas pessoas de cor, então eu não sabia onde me encaixar", Angel diz. "Dentro da ONYX, eu me senti mais confortável para buscar o que eu queria e meus interesses, mas cada um tem sua própria história. Ao conversar com membros da ONYX eu ouço a mesma coisa, você está em busca de um lugar onde possa se sentir aceito."

Talvez a aceitação das pessoas que se parecem com você pode aliviar a origem do sentimento de vergonha. Eu queria ouvir mais pontos de vista sobre este tema da aceitação e Angel gentilmente me deu acesso aos membros do grupo durante uma das festas nos bares na semana da Folsom Street East em Nova Iorque.

Daddy Sage simplesmente diz, "É importante que as pessoas vejam a si mesmas em todos os lugares.". Ele também explica que grupos para minorias significam que eles podem expressar suas posições culturais, políticas e sexuais em um espaço seguro.

O usuário Recon LynxofOnyx se junta a ele e oferece uma razão prática pela qual os homens de cor precisam se juntar para se educarem dentro da comunidade fetichista. "Vamos tomar o flogging como exemplo. Você pode ir para o CLAW, MAL, SELF. Você pode ir para todas essas convenções e ver todas essas demonstrações, mas se os professores são todos brancos, alguém que se parece como eu pode ter uma dúvida diferente. Eu não consigo dizer, olhando para essa pele [mais escura], se eu machuquei muito uma parte, eu não consigo identificar apenas olhando para ela. Ela não vai ficar vermelha, rosa ou roxa. Eu tenho que sentir o calor dela."

LynxofOnyx adiciona "Poder chegar em uma situação onde eu sei, que quando eu chego numa sala, que eu sou visto como um homem leather negro em segundo lugar… e sou visto como humano em primeiro lugar."

Suas palavras passam pela fetichização dos homens de cor na comunidade gay, algo que eu já vivenciei um pouco por mim mesmo. Sendo bem honesto, houve um momento em minha vida em que eu adorava este tipo de atenção e o resultado era muito bom. Mas conforme fui ficando mais velho, esta ideia de que alguém poderia ou não estar atraído a mim por causa da cor da minha pele (algo que eu não posso mudar) começou a me deixar um pouco desconfortável e, por um período da minha vida adulta, colocou em minha cabeça padrões irreais de beleza. Mas a percepção dos outros não para por aí.

[Continua na Parte 2 no domingo, 23 de dezembro]

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