RACE BANNON: Finja até conseguir

RACE BANNON: Finja até conseguir

de Notícias Recon

21 de agosto de 2020

Race Bannon, também conhecido como o usuário PigMaster4PigSlave, é organizador, escritor, educador, palestrante e ativista nos domínios LGBT, leather/fetichista, poliamorismo, e prevenção e tratamento do HIV/ISTs desde 1973. Neste artigo, ele fala sobre a síndrome do impostor no mundo fetichista.

Você entra em um bar. Encostado em uma parede há um belo homem vestindo uma impressionante roupa de couro, da cabeça aos pés. Uma faixa em seu braço esquerdo sinaliza que ele é um dominador. O flogger em seu quadril esquerdo reforça essa mensagem. Talvez ele seja um sádico. Ele está examinando a multidão com um comportamento sério, caçando sua próxima presa. Claramente, esse cara é um fetichista experiente que está na ativa há algum tempo.

A maioria de nós já deve ter visto esse tipo de cara. Vamos imaginar que tenhamos acesso ao que se passa na cabeça dele.

"Estou feliz por ter comprado essa roupa. Eu finalmente sinto que pertenço a este lugar, mas e se alguém me viu aqui antes e perceber que é a minha primeira vez vestindo fetiche?"

"Espero que minha decisão de trocar o bracelete para a esquerda funcione. A maioria das minhas fantasias e experiências são como submisso, mas, como sou novo na comunidade, estou com medo de encontros com desconhecidos. Talvez agir como dominador seja mais seguro."

"Aquela sessão da noite passada foi muito tesuda depois que eu comprei essa roupa. Acho que eu convenci como um dominador sério, mas será que ele percebeu que eu não sou tão experiente como meu look indica?"

"Sou fetichista por um bom tempo, mas agora que eu encontrei esta comunidade e tenho a roupa para ele, eu esperava que eu me sentisse mais confiante. Mas não.

Bem-vindo à realidade.

Estamos todos navegando por este mundo fetichista usando um constructo de fantasia que tornamos tão real quanto desejamos, individual e coletivamente. Mesmo os fetichistas mais sérios construíram suas personas, habilidades e reputações em um alicerce de fantasia feito no grau de realidade que funciona para eles (e sim, a fantasia pode se manifestar de maneiras bem reais).

Muitos caras seguem o mantra "finja até conseguir" porque essa é a única maneira de fazer esse tipo de coisa. Você tenta algo, aprende um pouco, refina sua persona e suas técnicas, incrementa seu gear como pode, e espera que ninguém o chame de impostor.

Faço parte das comunidades fetichistas por mais de 45 anos. Já conversei com inúmeros caras sobre isso. Estou totalmente convencido de que todos sofrem da síndrome do impostor, pelo menos ocasionalmente.

A síndrome do impostor é um termo psicológico cunhado em 1978 pelos psicólogos clínicos Pauline Clance e Suzanne Imes. Eles descobriram que, apesar da evidência externa em contrário, algumas pessoas continuam convencidas de que não merecem sua reputação ou sucesso. Pessoas com síndrome do impostor duvidam de si próprias.

É claro que isso acontece em nosso mundo fetichista. E por que não aconteceria? Há tanta coisa para se saber. Não é de admirar que os caras muitas vezes se sentem como completos impostores.

Estamos sob pressão para aprender, nos adequar e nos adaptar a um cenário em constante transformação. Anos atrás, um cara poderia ter algumas peças de roupas fetichistas, conhecer um punhado de técnicas sexuais básicas e participar de qualquer encontro fetichista e se sentir confiante.

Isso foi defasado pela rápida proliferação de informações, conectividade, educação, opções de equipamentos, expansão das opções de BDSM e a compartimentalização de nossa cena em pequenos grupos de especialização e socialização - filhotes, borracha, mestre/escravo, bondage e muitos outros.

Não existe nenhuma forma de entrar nesses domínios pela primeira vez e se sentir 100% confiante o tempo todo.

A síndrome do impostor não acontece apenas com os recém-chegados. Para a maioria de nós, nossas sexualidades e os ambientes associados estão sempre mudando. Continuamos precisando aprender e nos adaptar, se quisermos evitar ser um anacronismo.

Talvez você seja um especialista do BDSM com muitos anos de experiência e, em seguida, namora um gostosão apaixonado por bondage por cordas, do qual não sabe nada. Blam! Você é um novato novamente. A síndrome do impostor pode acontecer a qualquer momento.

Dominadores, submissos e versáteis, todos vivenciam a síndrome do impostor. A falsa noção de que os dominadores têm que saber mais que os submissos pode te levar a acreditar que isso é um problema só dos dominadores, mas você pode estar enganado."

"E se eu não aguentar tudo o que do dominador fizer?"

"Meu cu não se abre tanto quanto os dos outros parceiros desse fister."

"Eu disse para aquele Dom que eu sou um escravo, mas me submeti apenas poucas vezes, e não tenho certeza disso.

Tais preocupações dos submissos são tão abundantes quanto as dos dominadores. Faz parte da condição humana moderna que às vezes não tenhamos fé em nossas habilidades, incluindo nossa própria narrativa erótica.

Existem maneiras práticas de aliviar as crises temporárias de falta de confiança e elas têm algum apoio científico. Alguns podem se enquadrar na abordagem "finja até conseguir", que é um bom conselho na maioria das vezes na vida em geral.

Sorria. Expressões faciais sérias podem ser tesudas em pornografia e iconografia erótica, mas sorrisos atraem os homens. É um bônus que os pesquisadores descobriram que pessoas que intencionalmente sorriem têm indicadores de estresse mais baixos do que aquelas que não sorriem.

Tenha uma pose poderosa. Os pesquisadores descobriram que as pessoas que adotam uma postura de poder reduzem seu estresse e aumentam seus níveis de testosterona.

Vista-se para o sucesso. A forma como nos vestimos e nos apresentamos é importante. Neste caso, vestir-se de uma maneira quente e sexy. Foi descoberto que roupas com significado simbólico podem melhorar o desempenho geral de uma pessoa.

Copie. Vá em frente e copie os caras que você admira. Pesquisas confirmam que imitar alguém que exiba as qualidades e características desejadas pode melhorar seus próprios resultados.

Mostre profundo interesse pelo cara. Use seus olhos, toque e voz. Preste muita atenção a ele. Embora a pesquisa neste domínio usasse principalmente o interesse romântico como critério, descobriu-se que criar um interesse profundo em uma pessoa pode tornar a outra pessoa mais propensa a devolver o interesse.

Finja confiança para obter confiança. Aqueles que fingiram ter um senso de confiança acabavam sendo avaliados pelos outros como mais admirados e percebidos como mais assertivos e proativos.

Se a síndrome do impostor aparecer em sua vida, saiba que você não está sozinho. Nós todos passamos por isso. Há maneiras de superar isso e aproveitar esta incrível cena que é nossa.

Race Bannon é um organizador, escritor, educador, palestrante e ativista nos domínios LGBT, leather/fetichista, poliamorismo e prevenção e tratamento do HIV/ISTs desde 1973. Ele escreveu dois livros, publicou extensivamente, falou para centenas de audiências, criou o maior serviço de psicoterapia encaminhamento médico do mundo, foi um líder do The DSM Project, que levou a uma mudança benéfica na forma como a psicoterapia americana vê o BDSM, fundou uma inovadora empresa de publicação de sexualidade alternativa, apresentou um talk show de rádio na Internet, recebeu prêmios nacionais e locais e participou de inúmeros documentários. Atualmente, ele também escreve para o Bay Area Reporter e para seu blog.

Compartilhe