OPINIÃO DO USUÁRIO: Relacionamentos com pessoas não fetichistas
de
Notícias Recon
20 de novembro de 2017
Por riconfire, usuário do Recon
Sou usuário Recon há muito tempo, tranquilamente mais de 15 anos. Eu amo fazer parte desta comunidade de pessoas incríveis que vivem sem medo seus desejos mais íntimos. Talvez eu não curta exatamente as mesmas coisas que cada um de vocês curtem, mas me sinto conectado a todos pelo simples fato de estarmos vivendo nossos fetiches e taras, seja buscando por fotos, conversando com usuários ou indo à eventos. Independentemente da quantidade, intensidade e tipo de experiências que temos, somos todos fetichistas.
Por outro lado, somos seres humanos. Somos pessoas que têm sentimentos, necessidades e, às vezes, a vontade de fazer parte de um relacionamento. Mas, no processo de conhecer alguém, podemos encontrar aquela pessoa especial com quem temos muito em comum, mas não o fetiche. Isto pode ser bastante comum em cidades e países aonde a cultura fetichista não é muito comum.
E para piorar a situação, o fetiche poder ser tabu até para alguns de nós. Não é difícil encontrar usuários do Recon que não conversam sobre seus fetiches com seus amigos e parceiros. Eu costumava a ser uma dessas pessoas. Meu fetiche era algo que eu vivia secretamente, como uma segunda vida. Fora deste mundo, ninguém sabia das minhas taras.
Ao começar a conversar com alguns usuários do Recon, e, ocasionalmente, conhecer alguns deles, aos poucos comecei a descobrir uma comunidade de pessoas fetichistas em minha cidade, São Paulo, e entendi o bem que a vida fetichista me faz. Em outras palavras, minha evolução fetichista havia começado.
Mas em minha vida baunilha, eu estava em um relacionamento de 6 anos com um cara. Este relacionamento acabou chegando ao fim por diversas razões. Uma delas era justamente eu não ter nenhuma conexão fetichista com ele, apesar de sermos bons amigos hoje. Terminar um relacionamento é um processo muitas vezes longo e doloroso, mas foi a melhor saída para mim.
Tais histórias, porém, nem sempre precisam ter um final triste. Pedi para o usuário Recon tatsuo, meu amigo, nos contar sua história com seu namorado, que já dura mais de 25 anos. Veja o que ele tem a nos dizer:
"Eu e o meu namorado nos conhecemos quase 26 anos atrás. Naquela época, eu já era um fetichista nato, mas não imaginava que existia um mundo leather/BDSM por aqui. Tudo isso eu imaginava que deveria existir só no exterior. O meu namorado, pelo contrário é e sempre foi muito baunilha e careta, mas tem um perfil que me atraía e me atrai até hoje: branquinho, de óculos, meio nerd, meio intelectual. Num dos primeiros encontros, ele me apareceu todo de preto, coturno e jaqueta de couro emprestado do cunhado. Nessa ocasião, ele nem imaginava que eu me sentia atraído justamente por esse tipo de visual. Já me sentia atraído por ele e nesse momento, me apaixonei de vez. Anos mais tarde, já com o nosso relacionamento consolidado e com o começo da Internet, descobri que havia caras fetichistas que se reuniam e começavam a ter as primeiras festas leather num bar chamado Station Bar. Nessa época, comecei a frequentar e conhecer outros caras que curtiam e usavam tudo aquilo que me dava muito tesão. Meu namorado poucas vezes voltou a usar preto ou coturnos desde que nos conhecemos. Cheguei a dar para ele uma jaqueta de couro que acabou mofando dentro de seu guarda roupa.
Ele chegou a me acompanhar em algumas festas, mas depois não quis mais ir. Nada daquele mundo interessou a ele. Eu continuei a ir sozinho, conhecendo e fazendo amizades nesse meio leather. Até que chegou um ponto que eu quise viver mais esse fetiche e esse mundo. Foi aí que propus ao meu namorado abrirmos o relacionamento, ou então teríamos que acabar uma convivência de quase 9 anos na época. Resolvemos abrir o relacionamento. O meu relacionamento com o Tato, meu namorado, resiste até hoje e sou grato a ele por permitir que eu viva o fetiche, algo tão importante para mim. Fizemos muitas coisas juntos, construímos uma relação de amizade inclusive entre nossas famílias. Costumo dizer que não é um relacionamento ideal ou perfeito, mas é um relacionamento real e verdadeiro, no qual o respeito, a confiança e o amor entre a gente falam mais alto que os conflitos. "
Analisando as duas situações, posso dizer que, para nós fetichistas, pode ser bem difícil deixar a vida fetichista de lado, caso decidíssemos fazê-lo para o bem do relacionamento baunilha. Pode ser possível passar alguns meses sem pensar em fetiche, tendo apenas experiências sexuais baunilha (mesmo que isso se resuma a se masturbar para pornô não-fetichista), mas quando menos se espera, aqueles velhos desejos podem voltar, e com ainda mais força, se não forem postos em prática.
Para todos os fetichistas que possuam namorado baunilha que estiverem lendo este texto, aconselho que vocês falem com seus parceiros sobre seus fetiches, por mais estranho que isso possa te fazer sentir. Se seu parceiro realmente te ama, ele tentará te entender. E para aqueles que acabaram de conhecer aquela pessoa especial, eu recomendo fortemente que vocês falem de seus fetiches desde o comecinho do relacionamento.
Ao fazer isso, talvez seu relacionamento não vá longe, e você estará novamente livre para, com mais sorte, encontrar um parceiro fetichista. Talvez seu parceiro não se importe que você tenha uma ou outra aventura fetichista de vez em quando. Talvez você ajude seu parceiro a descobrir um lado fetichista até então desconhecido (não esqueça de apresentar o Recon a ele!). Essas três possibilidades são melhores do que viver uma vida fetichista secreta, ou pior, não vivê-la. O fetiche é uma parte importante sua (pelo menos é o que eu suponho) e não pode, de forma alguma, ser deixada de lado.
Se, assim como riconfire, você gostaria de publicar um artigo relacionado ao fetiche, envie suas ideias ou rascunho do artigo para: social@recon.com
Compartilhe