O quanto se deve compartilhar?
de
Notícias Recon
06 de junho de 2019
Eu estava na casa de um amigo algumas semanas atrás quando comecei a conversar com um cara, sobre o qual um amigo meu já havia me alertado que trabalhava com jornalismo. Conversamos sobre amenidades e, quando ele descobriu que eu trabalhava no mundo gay fetichista, eu fui bombardeado com pergunta atrás de pergunta sobre rapazes (fetichistas) – em especial aqueles que usam páginas "somente para fãs" para promover produtos.
Como alguém que tem um orçamento bem restrito para pagar por páginas "somente para fãs", eu genuinamente não sabia a resposta para esta questão. Eu também estava bem consciente de que ele estava em busca de informação para escrever um artigo para expor caras fetichistas e caras que usam essas páginas com o simples propósito de autopromoção.
O que se seguiu a partir de seus questionamentos foi uma conversa sobre sua integridade e o quão danoso seu "artigo" era – não só para a comunidade fetichista, mas para pessoas queer sexualmente positivas e para a comunidade gay em geral. Eu fiquei imaginando que público iria amar ler um artigo difamatório sobre fetichistas gays e deduzi que não seria uma audiência queer sexualmente positiva. Achei estranho que um homem gay, da mesma idade que a minha, do mesmo círculo de amigos de mente liberal, queria colocar um grupo de caras gays no "meio da fogueira", sob forte exposição.
Não sou ingênuo. Eu tenho um bom entendimento de como o jornalismo funciona, e também vivo na realidade em que sei que pessoas de merda existam. Mas o que me entristeceu foi que, pela primeira vez em muito tempo, eu me encontrei tendo que ser cuidadoso sobre o quanto de informação eu deveria compartilhar sobre fetiches com um cara gay que me perguntava a respeito disso.
Conversas sobre sexo e taras são muito importantes. Educar a nós mesmos e aos outros é uma das razões principais pela qual eu amo a comunidade fetichista. A maioria dos fetichistas que eu conheço sabe fazer isso bem. Os benefícios de ter confiança em quem você é (sexualmente) e ter a oportunidade de explorar os fetiches, para mim, é algo que tem um grande impacto em como eu existo enquanto homem gay. A comunidade fetichista me proporcionou um senso de identidade mais forte do que a maior parte da cultura gay já conseguiu, e muitas pessoas que conheci ao longo dos anos me apoiaram, me guiaram e me ajudaram a explorar minha sexualidade. São essas experiências que me fazem querer ser aberto sobre sexo e taras para todos que me perguntam. De boa vontade, passarei qualquer conhecimento e sabedoria que eu puder para enriquecer a identidade sexual de alguém.
Mas onde está o limite entre compartilhar de mais ou de menos sobre nossos fetiches e sexualidade com não-fetichistas? E em qual ponto você para de ser autêntico e genuíno e começa a esconder informações sobre você e seu estilo de vida?
Quando compartilhamos muita informação muito rapidamente com alguém que não conhecemos muito bem, essa pessoa tem o potencial de trair nossa confiança. As conversas em torno do fetiche e das taras podem ser provocativas (como o senhor jornalista deve ter aprendido no primeiro dia de aula). O destinatário da informação pode não ser tão sensível quanto você gostaria que fosse. Leva tempo para estabelecer esse nível de respeito mútuo.
Quando compartilhamos demais, podemos inadvertidamente inundar a pessoa que está ouvindo com o que pode ser entendido como "muita informação", e isso não nos dá a oportunidade de entrar nas complexidades dos estilos de vida e relacionamentos fetichistas.
Manter um diálogo aberto é fundamental, mas o que eu aprendi ao tentar educar pessoas em relação aos estilos de vida fetichistas é que você tem que pensar em quais informações você quer compartilhar, e como você as transmite. O que essa pessoa vai tirar da conversa? E isso é positivo? Informativo?
Eu tenho o luxo de estar rodeado de pessoas positivas para o fetiche, o tempo todo, e ao longo dos anos eu me tornei muito confortável, honesto e às vezes até mesmo muito aberto sobre o meu estilo de vida fetichista. O que eu aprendi é que, se você quiser apoiar a comunidade fetichista, continue tendo essas conversas, mas saiba o que e quanto você pode compartilhar.
Se você quiser compartilhar suas experiências fetichistas no Recon, envie-nos um e-mail com suas ideias para: social@recon.com
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