ISSUE_02: O Futuro é Queer

ISSUE_02: O Futuro é Queer

de Notícias Recon

16 de setembro de 2019

Por FlyBoyChi

Eu nunca vou esquecer o momento, em minha primeira Manchester Rubbermen Weekend, quando eu encontrei meu primeiro corset de látex. Para mim, moda e fetiche andam de mãos dadas, mas antes deste momento eu me sentia tentando me encaixar em diferentes moldes que não pareciam feitos para mim. Eu havia tentado o visual garoto do couro, o visual militar e até alguma coisa esportiva, mas essas personas nunca pareciam exatamente o que eu queria personificar. Foi naquele momento, quando eu me deparei com aquele corset de látex que eu tive um breve momento de iluminação, um momento no qual todas as facetas da minha vida, moda, fetiche e visões internas de minha própria identidade pareceram se encontrar. Como você pode ver, eu me identifico como queer e não-conformista com gênero. Esta identidade é minha e só foi encontrada depois de muita exploração. Depois deste momento, eu comecei a ter mais autoconfiança para incorporar mais moda em meu fetiche. Eu conheci artistas queer para colaborar, para desenhar peças de látex personalizadas e eu comecei a me permitir ter liberdade de me expressar como eu realmente queria, e não tentar me forçar em um molde em que eu nunca encaixaria.

Eu viajo a trabalho, o que me permite ter uma rede de amigos em comunidades fetichistas pelo mundo. Quando estou viajando, eu tenho a oportunidade de participar de muitos eventos fetichistas. No começo deste ano, eu estava muito animado a participar de um evento em especial pela primeira vez. Quando estava me preparando, mandei fazer um maiô de látex personalizado. A peça era parecida com o modelo que eu usei no concurso Mister International Rubber em novembro passado. Para completar o visual eu peguei o meu melhor par de saltos-altos e coloquei luvas de látex extra longas. Chega a noite do concurso e eu caminhei com o meu visual me sentindo queer e confiante, mas imediatamente pude sentir os olhares. Eu já sou alto, mas com o salto alto eu pude ver a multidão, os olhares, a sensação parte horror, parte desprezo. Todos aqueles olhares combinados, para mim, foram quase que paralisantes. Não foram todos, mas para cada pessoa que entendeu o meu propósito, dez ou mais tinham a pergunta em seus olhos "O que ele está fazendo aqui".

Eu criei uma casca grossa – uma armadura, se assim quiser chamar – então não foi uma sensação não familiar, mas este momento em particular foi demais para mim. Este incidente, e a forma como ele me fez sentir, me fez pensar muito profundamente em como um novato na comunidade reagiria a uma experiência similar.

Com o ambiente político global atual, queers, viadinhos, afeminados, não-binários e pessoas não conformistas com gênero vão de encontro à comunidade fetichista buscando um lugar de autoexpressão em um mundo outrora muito repressivo. O fetiche é um lugar onde todos podem encontrar abrigo, clareza e comunidade. Então o que isso diz sobre nós como comunidade se nós não os recebemos de braços abertos? Ainda existem espaços que são inerentemente excludentes. Espaços "somente para homens", por exemplo, que excluem homens trans ou que não permitem homens com trejeitos femininos. Existem pessoas desse tipo sendo retiradas de lugares por causa dessas políticas e isso certamente não é o que se espera de uma comunidade, ou pelo menos não do tipo de comunidade da qual quero fazer parte. A comunalidade do fetiche e das taras vai além dessas políticas e a inclusão de todos só melhora esses espaços. Queers, viadinhos, afeminados, não-binários e pessoas não conformistas com gênero vêm contribuindo com a cultura fetichista e têm o direito de existir nesses espaços. Existe espaço suficiente para todos e quanto mais cedo percebermos isso, mais cedo nós poderemos crescer e florescer como comunidade de formas que nos fortalecerão ainda mais enquanto caminhamos para o futuro.

Chegou a hora de nós nos tornarmos mais receptivos e abraçar todos em nossos espaços que queiram estar em nossos espaços. Nossa comunidade é mais forte e mais significativa quando nós recebermos bem todos os seus membros. Posso dizer isso com toda a convicção: o futuro é queer, o futuro está aqui. Trans, gays, bissexuais, lésbicas, não-binários e não conformistas, queer, afeminados, viadinhos, filhotes, Alfas, Adestradores, betas, gamas, escravos, Mestres, Sirs, Rainhas, Papais, garotos, garotas, gimps e tudo e todos que estiverem no meio. O fetiche é para você. As taras são para você. Este espaço é para você. Esta revista é para você. E este mundo é para você. Uma humilde opinião deste humilde fetichista queer.

Este artigo pode ser encontrado na Recon ISSUE_02, junto com outros artigos, fotos e artes focadas em fetiches e taras. Já disponível em locais fetichistas pelo mundo e, em breve, online.

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