ARTIGO DO USUÁRIO: O preço da censura
de
Notícias Recon
24 de janeiro de 2019
Por Skully
Eu, como muitas outras pessoas, lamento a morte do Tumblr. Houve uma comoção pelas redes sociais nos dias e semanas que sucederam o anúncio do Tumblr de banir conteúdos explícitos, com as reações variando de aborrecimento a indignação. Eu não era um usuário ávido e nem contribuí muito, mas para mim foi a materialização de uma censura cuja ameaça deveria, especialmente no mundo moderno, ser levada muito a sério.
O Tumblr e sua reputação de provedor de conteúdo pornográfico fizeram dele um concorrente e tanto na era da internet. Você pode, é claro, encontrar pornografia em outros lugares, mas o que destacou o Tumblr – pelo menos suas seções adultas – foi o fato de ele ser uma plataforma para celebrar todos os tipos de sexualidade, além de explorar outros assuntos relacionados ao sexo, incluindo o fetichismo. Também foi uma plataforma para representações sexuais mais artísticas e educacionais, e não era apenas putaria. Para alguns, a perda de conteúdo explícito teve um impacto direto nos meios de subsistência. O Tumblr era um espaço seguro para profissionais do sexo, curadores e criadores de pornografia e pessoas envolvidas com transmissões de vídeo.
As novas diretrizes do Tumblr foram um golpe para a comunidade de sexo (e fetiche), e representam uma grande perda. Nós do Recon também fomos atingidos por censura quando nossa conta no Instagram foi abruptamente excluída sem maiores explicações. O conteúdo do Instagram do Recon sempre aderiu às diretrizes do Instagram e, depois de um mês de e-mails tentando recuperar a página e sem ter resposta, sem falar as advertências, decidimos desistir e começar novamente do zero. A frustração de perder tudo, o conteúdo selecionado a dedo através dos anos, foi um soco no estômago. Qualquer um que já tenha corrido feito louco à uma loja da Apple quando seu telefone morreu e foi informado de que "você perderá tudo o que não salvou" saberá a temida sensação de se perder um histórico pessoal documentado. Foi triste perder fotos, memórias e conteúdo que produzimos e compartilhamos nos últimos anos em uma plataforma de grande alcance. O Instagram nunca nos gerou renda, nem pagamos nada a ele. O que ele nos deu foi outra forma de interagir com os fetichistas e a comunidade. Ele nos permitiu fazer novas amizades e parecerias fora do Recon e foi uma ferramenta para promover o fetiche e a evolução da comunidade fetichista gay de uma forma positiva.
Crescer na era da internet tem sido uma jornada muito rica. A rede tem a capacidade de fazer coisas incríveis e outras não tão incríveis assim. Ao crescer, eu sentia que eu era bombardeado com imagens e narrativas de como minha vida seria como homem gay. A maioria dos canais de mídia que apresentavam algum tipo de homossexualidade o faziam de uma forma que eu e muitos de meus colegas sentiam que a única maneira de encontrar aceitação era através da emulação dos ideais e dinâmicas de relacionamento heteronormativos. Como um jovem gay interessado em fetiche, a narrativa que sempre era empurrada para mim denotava um tipo de corpo específico, práticas sexuais específicas e um mundo que me parecia impenetrável (trocadilho intencional). A internet facilitou a busca por outros caminhos, e lugares como o Tumblr e o Instagram do Recon nos ajudavam a cultivar e aprender sobre estilos de vida alternativos (geralmente com fotos, o que facilita), a nos inspirar e nos dar autoconfiança em nossa sexualidade e na sexualidade dos outros.
A pressão para que os sites limpem suas operações pode, superficialmente, ser vista como uma medida de segurança (geralmente para crianças) ou para mostrar que eles se comportam de acordo com os padrões morais das massas. Mas o fato de empresas como o Tumblr ou o Instagram em reforçarem as restrições da sociedade é mais danosa para as pessoas que querem explorar suas próprias sexualidades e para as pessoas que mais precisam delas.
Se você quiser compartilhar suas experiências fetichistas no Recon, envie-nos um e-mail com suas ideias para: social@recon.com
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